Daniel Handler: Entrevista ao 'New York Times'

19:46


O autor, mais recentemente do romance "We Are Pirates" (e como Lemony Snicket, em numerosos livros infantis), gosta de ler "Miss Manners" ("Senhora Boas Maneiras"). "Ela é uma filósofa extremamente útil, e eu a consulto frequentemente, para que me comporte melhor."

Que livros estão atualmente na sua mesa de cabeceira?

Como sempre, eu tenho três livros na cabeceira da minha cama. Um livro em prosa, outro de poesia, e mais um que eu esteja lendo lentamente. O primeiro é o romance triste e sombrio de Forrest Gander, "The Trace"; o de poesia é o "Sorrow Arrow" de Emily Kendal Frey, que é pungente e maravilhoso. Minha leitura lenta é "Even Now", a seleção de poemas de Hugo Claus - que quase nunca dá errado com a Archipelago Books.

Qual é o seu romancista favorito de todos os tempos?

Hoje eu vou com William Maxwell: ele tem uma certa generosidade de espírito surpreendente, e um discreto, quase invísivel traço de literatura experimental. Eu já li "Time Will Darken It" 10 vezes, e ainda não enjoei.

Quais são seus autores de ficção favoritos atualmente na ativa?

Haruki Murakami, Mary Robison, Percival Everett, Joy Williams, Alice Munro, Stephen Dixon, Beverly Cleary e vários outros escritores que eu conheço pessoalmente e não citarei para não os envergonhar.

E que autores de livros infantis você admira especialmente? Algum que você você tenha apreciado especialmente ler com seu filho?

Vamos só pausar um momento para acender uma vela para Zilpha Keatley Snyder, uma tremenda escritora recentemente falecida, que encantou minha infância quase que com exclusividade. Meu filho, entretanto, gosta de ler para mim Hazardous Tales, de Nathan Hale, uma série de graphic novels com fundo histórico, que funciona muito bem: eu conto a ele que o "K" em "William Knox" é mudo, e ele me conta quem William Knox é.

Seu novo romance é sobre piratas. Qual é a sua história de pirata favorita?

"A High Wind in Jamaica" [nota da tradução: O livro gerou um filme que no Brasil em conhecido como "Ventania na Jamaica", lançado em 1965], de Rychard Hughes, por pouco ganha de "Captain Blood", de Rafael Sabatini. Isso adere a uma teoria minha de que colocar crianças numa obra de gênero a faz mais interessante (Lemony Snicket e eu nos aproveitamos um pouco desta teoria).

Que livros nós ficaríamos surpresos de encontrar em suas prateleiras?

Um montão de poesia. Eu comecei como um poeta, e embora eu tenha desviado disso, é pela poesia que eu tenho mais carinho e onde encontro a melhor fonte de truques para se roubar.

Qual foi o último livro que leu que te fez rir?

"Hughson’s Tavern", de Fred Moten, tem alguns versos afiados - é um riso nervoso, mas é real.

E qual foi o último livro que leu, que te fez chorar?

Eu vou às lágrimas quando eu chego à esses versos na coleção de Mary Ruefle "Trances of the Blast":

"I hate childhood/ I hate adulthood/ And I love being alive".

["Eu odeio a infância/ Eu odeio a vida adulta/ E eu amo estar viva" numa tradução livre]

O último livro que você leu que te fez ficar furioso?

Eu fico levemente furioso quando termino qualquer livro bom - porque não o estou mais lendo, e porque eu nunca mais vou poder lê-lo pela primeira vez. O último bom livro que eu li foi o "Station Eleven", de Emily St. Mandel.

Que tipo de leitor você era quando criança? Seu livro favorito? E o seu mais amado personagem?

Eu era um leitor voraz e constante. Eu tenho uma memória bem clara de onde eu estava quando eu li "A Perfect Day for Banana-fish" [n.t.: No Brasil, fracamente conhecido como "Um Dia Ideal para os Peixes-Banana"], então numa festa de aniversário qualquer. Meu livro favorito era, de alguma forma, "The Bears' Famous Invasion of Sicily"de Dino Buzzati ["A Famosa Invasão dos Ursos Na Sicília" aqui no Brasil], um livro bastante obscuro. Mas meu personagem predileto era o de todo mundo: Harriet the Spy [protagonista do livro homônimo de 1964, publicado no Brasil em 1997 pela Companhia das Letras como "A Espiã", de Louise Fitzhugh].

Se você tivesse que nomear um livro que te fez ser quem você é hoje, qual seria?

"The Blue Aspic", de Edward Gorey. Esse foi o primeiro livro que eu comprei com meu próprio dinheiro, e isso abriu um mundo curioso e nebuloso para mim... - você sabe, aquele que nós todos vivemos - eu ainda o estou explorando.

Se você pudesse ordenar o presidente a ler um livro, qual seria?

"Nochita", por Dia Felix. Eu não sei o porquê, de verdade, mas é um livro realmente divertido, e seria realmente hilário saber que ele está lendo isso por minha ordem.

Política e religião. Algum livro para recomendar sobre esses assuntos?

"How to Cure a Fanatic"de Amos Oz  ["Contra o Fanatismo" no Brasil] está em algum lugar no diagrama de Venn onde política e religião se encontram. E é curto, então eu posso recomendar ele para as pessoas sem parecer enfadonho.

Você está dando um jantar literário. Que três escritores estão convidados?

Eu nunca sou muito bom com a coisa do "jantar literário hipotético". Eu fico imaginando o cadáver reanimado de Nabokov dizendo: "Espere, então eu ressuscitei dos mortos, e então eu, você, Raymond Chandler e Ida B. Wells podemos compartilhar uma salada Cobb?"

Decepcionante, superestimado, simplesmente ruim. Qual livro você sentiu que supostamente iria gostar, e não gostou? Você se lembra do último livro que você abandonou sem terminar de ler?

Eu não vou dar nomes, mas pela minha vida, eu sou encantado pelo apelo de romances nos mostrando o Jeito Que Nós Vivemos Agora. Eu sou interessado no Jeito Que Vivemos Depois. Eu sou interessado em Como Outras Pessoas Vivem, e eu sou interessado no Jeito Como Nós Podemos Viver Em Outro Tempo. Porém, mais do que tudo, eu sou interessado no Jeito Que Nós Não Vivemos Agora, um livro com a estranheza essencial da grande literatura. O estranho ilumina o ordinário. Mas alguém me diga, por favor, o que o ordinário deveria iluminar.

Algum livro que você se arrepende completamente de ter lido?

Eu escrevi uma coluna para a revista The Believer, sobre o Prêmio Nobel da Literatura, e gastei algumas densas e aborrecidas semanas lendo a série de romances "The Long Journey" de Johannes V. Jensen  ["A Longa Viagem"/"A Longa Jornada" aqui no Brasil] (título alternativo sugerido: "Melassos em Janeiro"), apenas para decidir que eu escreveria sobre outro trabalho do laureado.

Qual é o livro que você deseja que outra pessoa escreva?

Uma enciclopédia de ingredientes culinários substitutos, para ser consultada quando eu estou no meio de uma receita e precebo que estou sem algo crucial, e preciso trocá-lo.

Quem você gostaria que escrevesse a história da sua vida?

Robert Firbank. Isso seria ridiculamente impreciso, é claro, mas seria louco e curto.
[N.T.: Poeta inglês do início do século 20, sub-valorizado pela maioria dos críticos literários da época, e até de hoje]

Para quais livros você se encontra retornando de novo e de novo?

Tudo de Judtih Martin, também conhecida por Miss Manners. Ela é uma filósofa extremamente útil, e eu frequentemente a consulto, para me comportar melhor.

Que livros você está envergonhado de ainda não ter lido?

Eu ainda não li nenhum de Proust. É mortificante. Existem alguns episódios de "The Golden Girls" ["Supergatas" no Brasil] que eu vi uma dúzia de vezes, e eu ainda nem abri nada de Proust. Eu estou tentando começar um Dive Bar Proust Club [algo como um "Clube/Bar de Leitura de Proust", numa tradução livre], onde nós nos reunimos regularmente em "dive bars" {N.T.: O conceito de "Dive Bar" nasceu nos Estados Unidos no fim do século XIX e se referia aos lugares de ambiente malconservado e clientela suspeita — onde, com a intenção de se proteger de uma possível confusão, era preciso “mergulhar” (dive) embaixo da mesa.] para discutir Proust, mas as pessoas que eu convido continuam perguntando, "Nós temos que nos encontrar nesses 'dive bars'?" ou "Nós temos que ler Proust?"

O que você planeja ler em seguida?

"Notebook of a Return to the Native Land", de Aimé Césaire. Eu estou no clima.

Fonte: New York Times

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